Nas constelações familiares é comum dizermos que cada um precisa tomar seu lugar: pai é pai, mãe é mãe e filho é filho. Sobre isso, gostaria de compartilhar uma pequena história.
Minha mãe passou por um câncer de mama e depois da cirurgia precisou fazer radioterapia. Embora ela morasse em Bauru, preferiu fazer a terapia em Jaú. Tudo acertado com o convênio médico, ficou apenas a questão de como seria feito o transporte uma vez que seriam quase 100km diários de estrada e a terapia aconteceria todos os dias durante a semana, com a previsão de durar alguns meses.
Eu me lembro de que meu irmão estava muito preocupado e me perguntou:
É você quem vai levar?
Eu pedi um minuto e fui conversar com os pais que estavam tomando café da tarde. Eu disse pro meu pai:
– Ela vai precisar de você (apontado para minha mãe). Ele respondeu:
– Eu sei.
Eu complementei:
– Mas pai, é pegar estrada todo dia.
Ele riu. Disse que era motorista de caminhão. Estrada não o assustava.
Voltei ao meu irmão e disse que já estava resolvido e que seria papai que eu faria. Meu irmão esbravejou: – Ele nunca cuidou dela.
Eu respondi:
– É verdade, mas para tudo existe uma primeira vez.
Ele tentou contra argumentar e eu disse o seguinte:
– Você é o filho e tem o direito de cuidar da sua mãe. Mas, ele é o marido. Ele tem o dever e o direito de cuidar da esposa dele.
Detalhe, eu havia arranjado minhas férias para poder levar para o tratamento, mas depois da resposta de meu pai não me senti no direito de interferir. Fui a Bauru apenas nos finais de semana quando não havia tratamento.
Tudo correu bem e meses depois minha mãe teve alta.
Um outro detalhe, minha mãe sempre foi uma costureira de mão cheia e, um belo dia, eu estava passando pelo quartinho de costura quando eu a ouvir dizer cheia de orgulho para uma freguesa: “foi o meu marido que me levou todos os dias no tratamento“. Ela só pode dizer isso porque tomei meu lugar de filho e deixei meu pai e minha mãe no lugar de pais.
Até amanhã!
No responses yet